7 de junho de 2023

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BDRs: Como escolher ações de empresas gringas para investir do Brasil? Entenda o que analisar

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Elencamos algumas dicas para você entender melhor o universo dos BDRs, os recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na B3 e que está acessível para todos os bolsos de investidores

Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) caíram de vez nas graças dos brasileiros. Na prática, esses tais BDRs são recibos de ações de empresas listadas no exterior, mas negociados na B3. Desde 2010, eles já estão disponíveis no Brasil. Mas foi só a partir de outubro de 2020 que qualquer investidor passou a pode aplicar seus recursos nesses ativos. Até então, eram restritos a investidores que tinham ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

De 2020 para cá, uma verdadeira revolução aconteceu neste mercado. O número de investidores em BDRs cresceu 1.414% de setembro de 2020 a setembro de 2021, segundo dados da B3. O total já passa de 300 mil, sendo a maioria pessoas físicas. O giro diário deve passar de R$ 500 milhões ainda este ano, de acordo com o presidente da B3, Gilson Finkelsztain.

A oferta acompanhou a demanda. Se nos primeiros anos mal chegava a uma centena o número de BDRs disponíveis aqui, agora são mais de 800 opções. Nem o mercado de ações de empresas brasileiras listadas aqui tem tudo isso. Gestoras de investimentos entraram de vez na temática e lançaram produtos só com a estratégica ou a incluíram em seus fundos já no ar.

Mas, se já é difícil acompanhar de perto o que está acontecendo com as empresas locais, imagina com as gringas? Conversamos com Mauricio Lima, especialista de produto da gestora Western Asset. A Western tem o maior fundo de BDRs do Brasil, o Western Asset BDR Nível I FIA, com mais de R$ 4 bilhões de patrimônio, 150 mil cotistas, rentabilidade de 17% no ano até agora e 42% anual em 36 meses.

“Em momento de estresse, juros sofrem, a bolsa sofre e o câmbio [real] se desvaloriza. Essa situação conjuntural funcionou de forma importante para que investidores aumentassem seu interesse nos BDRs e fundos de BDRs. Esses produtos funcionam para compor a parte do portfólio descorrelacionada com o risco Brasil. A taxa de juros muito baixa também impulsionou a busca por mais diversificação”, comenta Lima.

Veja quais as dicas que ele dá para quem quer investir em BDRs

1.Entenda onde está pisando

Diferentemente das ações de empresas brasileiras negociadas na B3, os BDRs expõem o investidor a um risco a mais além da própria variação do preço do papel na bolsa: o câmbio. A conta de valor na B3 já incorpora a oscilação do dólar/real. Além disso, vale lembrar que mesmo a variação do preço de negociação pode ser influenciado pelo mercado de origem das empresas, no caso, o americano.

“O BDR reflete a variação do preço das ações. Por isso aqui no Brasil, os fundos de BDRs são fundos de ações, ainda que não comprem ações diretamente. Os recibos refletem integralmente a variação de preço das ações e mais a variação cambial”, comenta Lima.

Vale ainda comentar que há diferentes tipos de BDRs: os patrocinados e não patrocinados, os BDRs de ADRs (American Depositary Receipts) e os BDRs de ETFs, fundos que replicam índices. Por partes:

  • BDR Patrocinado: é aquele em que a empresa emissora é quem contrata uma depositária para realizar o processo de emissão dos certificados porque tem intenção em oferecer seus papéis naquele mercado. Mais raro no Brasil.
  • BDR não Patrocinado: emitido por uma instituição depositária, sem envolvimento da companhia estrangeira emissora dos valores mobiliários lastro. A maioria dos BDRs são deste grupo.
  • BDR de ADR: recibo de um outro recibo negociado na bolsa americana e emitido por empresa de fora dos Estados Unidos.
  • BDR de ETF: recibo que tem como lastro um fundo de investimento que replica um índice negociado no exterior.

2.Considere múltiplos fatores na análise e delegue se preciso

A língua é uma barreira para muitos investidores de BDRs – os sites e comunicações das companhias são, em sua maioria, em inglês, já que esses produtos são predominantemente de empresas listadas nos Estados Unidos.

Mas não é só isso: para investir em uma ação do jeito fundamentalista é preciso acompanhar de perto a companhia, analisar seus resultados financeiros, calcular seu valor justo e, então, decidir se o valor que ela está sendo negociada no mercado é atraente (ou seja, tem potencial de valorização) ou não. A lógica vale para ações e para BDRs.

“Tem que considerar diversos outros fatores: ambiente regulatório, competição e concorrência do mercado, governança da empresa, estratégia corporativa para crescimento, capacidade financeira da empresa, estratégia de investimentos (se vai ampliar, por exemplo, a planta fabril ou não), como está o mercado de insumos, se a oferta está boa ou falta produtos, quais os preços dos insumos e por aí vai”, elenca Lima.

Para o especialista, quem não se sentir confortável ou não quiser ter esse trabalho, pode optar por um fundo de investimento, que tem alguém (gestor) pago para escolher as melhores opções e fazer todas as análises, além de rebalancear a carteira quando achar necessário. Além disso, o fundo costuma já ter carteira mais diversificada e ponderada pelo risco/retorno, mas, claro, isso tem um preço: a taxa de administração e, em alguns produtos, também a taxa de performance.

“É complicado imaginar que a pessoa física vai acompanhar de forma recorrente tudo que é preciso para negociar BDRs. Muita gente pode confundir o fato de conhecer o produto ou gostar do serviço com o potencial de valorização da empresa. Não é porque tem um celular Apple, gosta de Coca-Cola, já foi para a Disney que sabe sobre essas empresas o suficiente para decidir investir”, pontua Lima.

“Mesmo se a estratégia da empresa está boa e o produto ou serviço tem seu diferencial, será que o preço já não reflete essas qualidades da empresa e a ação está cara? O investidor tem que procurar boas teses de investimento, com prazo de maturação adequado ao perfil e com capacidade de valorização. É preciso manter o acompanhamento disso no dia a dia porque essas coisas vão mudando ao longo do tempo“, completa.

3.Veja se serve para você

Os BDRs são investimentos de risco, assim como o mercado de ações local. Por ter a exposição ao câmbio, isso lhe confere um risco extra. Mas é um mercado mais acessível – com R$ 100 dá para investir e os fundos têm mínimo de R$ 1 mil.

diversificação geográfica certamente é uma vantagem, uma vez que o investidor pode não só comprar papéis lastreados em ações de empresas americanas, mas também de ADRs (ações de companhias listadas em outros países, como na China, Japão, Europa etc.) e ainda investir em negócios que são verdadeiramente internacionais, de empresas que têm operações em diversas regiões do globo.

Vale ressalvar que a exposição vale para momentos bons e também ruins. Há, por exemplo, quem pregue que alguns setores do mercado de ações americano já estão caros demais e há um risco de “estouro de bolha”.

Para lima, da Western Asset, “não dá para dizer que a bolsa americana vai continuar subindo, mas estamos falando da maior economia do mundo, com empresas extremamente bem capitalizadas, em um país que teve uma resposta favorável à vacinação e que já retomou sua atividade econômica”. “Se há mercado com espaço para continuar andando e gerando valor para os investidores, é o americano; é grande, robusto, largo e profundo, tem muitos instrumentos financeiros e liquidez para fazer posicionamentos”, completa.

4.Entenda o impacto do câmbio

Com o dólar já bem valorizado – quase R$ 5,50 – fica menos atrativo comprar agora BDR? A resposta é sim. Dificilmente resultados tão bons como o do ano passado e deste, que tiveram uma forte influência do câmbio, vai se repetir no ano que vem. Lembra que retorno passado não garante sucesso futuro?! Mas Lima faz alguns contrapontos:

Se a gente pensa na diversificação como uma questão estrutural do portfólio, que tem por base a teoria do portfólio, o investidor tem que ter na carteira ativos que pulem de formas diferentes. Por isso, em teoria, não deveria se preocupar com o nível do câmbio. Ele é um contrapeso na diversificação e funciona como uma espécie de ‘seguro’ para turbulências. Não deveríamos torcer para poder usar o seguro, mas é importante ter essa proteção caso algo aconteça”, explica o executivo.

Ele lembra que estamos a menos de um ano das eleições no Brasil, somado aos problemas fiscais atuais e a lenta recuperação econômica. Isso tende a deixar os ativos em ambiente mais volátil e incerto.

5.Saiba que liquidez pode ser um problema

Diferentemente de gestoras grandes, os pequenos investidores, quando vão ao mar aberto escolher seus BDRs precisam lidar com o fato de que nem todos os papéis são negociados sempre e o tempo todo, o que provém liquidez. Por isso, há um risco de, se precisarem vender, acabarem topando um preço menor do que acha que valeria, uma simples questão de oferta e demanda. Quando o ativo é muito negociado, isso deixa ele mais próximo do seu preço “justo” – o equilíbrio entre a oferta e demanda naquele momento.

6.Pense se é melhor investir em BDR ou diretamente fora do país

Hoje em dia está mais fácil abrir conta em uma corretora e investir diretamente no exterior. Mas isso não significa que o investidor se livrou da burocracia que envolve remessa de dinheiro, fechamento do câmbio do momento, escolha e aplicação em si no ativo, pagamento de impostos e declaração de Imposto de Renda e proventos.

“Se tiver uma massa de recursos bastante grande para fazer o investimento talvez valha a pena. Se tiver poucos recursos, alguns milhares de reais, vale pensar se não é melhor comprar BDR que é mais fácil operacionalmente e dá a mesma exposição à variação de preço e câmbio, com liquidação financeira já equivalente também”, finaliza.

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