Black Friday 2021: é possível conseguir descontos com a inflação em alta? Veja dicas
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Varejistas conseguirão driblar o avanço persistente de preços para dar descontos efetivos que atraiam os consumidores? Especialistas comentam como deve ser a data de promoções deste ano e dão dicas de como driblar a inflação.
A Black Friday, que será realizada no dia 26 de novembro, encara neste ano o desafio da inflação, que vem subindo ao longo do ano e já atingiu em outubro 10,67% em 12 meses.
Além do esforço em dar credibilidade à data de promoções, com descontos efetivos que atraiam os consumidores, os varejistas terão de driblar o avanço persistente de preços e a alta na taxa de juros, que encarece o crédito e retrai o consumo.
De acordo com Edu Neves, CEO do Reclame Aqui, neste ano o consumidor não está acreditando que será possível encontrar grandes descontos por causa da inflação.
“Uma pesquisa feita pelo Reclame Aqui mostra que o consumidor está incrédulo que terá desconto num cenário no qual está vendo o preço aumentar toda semana. A gente percebe que esse preço muito ligado ao dia a dia das pessoas como combustíveis, gás e energia gera uma percepção de crise muito mais rápida do que quando você tem um aumento de preço em produtos. Então o consumidor vai entrar com a confiança muito baixa, não é uma percepção só de que ele não vai comprar porque não tem desconto suficiente, mas porque já está receoso de despender em produtos que não sejam essenciais”, diz.
Para Fabio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com o cenário de inflação alta, será muito mais desafiador para o varejo conseguir dar o desconto que o consumidor espera.
Segundo ele, o cenário de inflação atual é bem diferente do ano passado, quando o índice fechou 2020 em 4,52%. Com isso, ele prevê que as vendas devem crescer, mas não no mesmo ritmo dos últimos anos, apesar do crescimento da participação do comércio eletrônico no setor varejista, principalmente em decorrência da pandemia.
“Vai ter desconto neste ano, mas a data de promoções vai ser mais desafiadora. O consumidor vai comparar com o preço do ano passado e vai ver que não tem desconto efetivo. Por isso, não vai ter aquele apelo do consumo das edições passadas”, afirma Bentes.
O economista-chefe da CNC aponta três fatores que adicionam dificuldades para a Black Friday deste ano. “É muito difícil o consumidor driblar a alta de energia elétrica, combustível e alimentos. A taxa de câmbio tem subido e o real tem se desvalorizado, muitos produtos montados no Brasil têm componentes importados, outros vêm diretamente de fora, isso expõe uma dificuldade adicional no comércio. E tem o encarecimento de crédito. A taxa de juros ao consumidor hoje é a mais alta desde junho de 2020, na casa dos 40% ao ano”, diz.
Descontos x inflação
A questão inflacionária volta quando se trata de saber se os descontos realmente valerão a pena. Para Neves, a questão da maquiagem de preços pode ser novamente um assunto que dominará a Black Friday deste ano.
“A questão de a empresa ter que dar desconto e a alta de preços podem fazer com que o consumidor desconfie de maquiagem. Por exemplo, ele está vendo que o preço de TV está subindo por causa da inflação. O valor que era de R$ 4 mil pulou para R$ 4,5 mil até chegar a R$ 5 mil. Aí a empresa dá 30% de desconto. Então ele vai ver que o preço subiu ao longo dos meses”, explica.
“As empresas vão dizer que subiu por causa da inflação. Ele vai dizer que subiu porque as empresas são desonestas e, por isso, os descontos são irreais”.
Para Bentes, o fato de a inflação estar em 10% nos últimos 12 meses, descontos de 5% podem atrair o consumidor mais desavisado, principalmente pelo apelo que a Black Friday exerce no consumo.
“Um aparelho de videogame que custa R$ 2.000, com desconto de 5% fica R$ 100 a menos, então o consumidor pode ter o ímpeto de consumir esse item.”
O economista alerta que, se um produto subiu 10% nos últimos 40 dias, a chance de ter um desconto efetivo diminui.
Estudo da CNC mostra que neste ano os descontos devem abranger menos produtos justamente pela alta de preços no país. Headsets, perfume feminino, creme hidratante, protetor solar e bronzeador e caixas de som bluetooth são os produtos com as maiores chances de terem descontos efetivos. Já os consoles de videogames e jogos eletrônicos têm as chances mais reduzidas.
“Vamos supor que na Black Friday a gasolina, em vez de custar R$ 7, estará sendo vendida a R$ 6,50. Muita gente iria consumir a gasolina pensando que dali a uma semana ela iria custar R$ 7 novamente. Não teve desconto efetivo porque a gasolina 40 dias atrás estava custando R$ 6,50”, explica.
Para ele, mesmo o consumidor não tendo o desconto efetivo, ele verá uma oportunidade de consumir aquele produto de que está precisando. Mesmo que o produto esteja com o preço maior que o do ano passado, por conta da inflação, ele pode ver como uma chance de ter aquele produto, mesmo que não tenha ocorrido desconto efetivo. Além disso, ele opta por comprar porque pensa que no mês que vem o preço estará mais alto.
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“No caso da gasolina, não teve desconto em relação ao ano passado, certamente não teria desconto em relação ao preço de 40 dias atrás, ainda assim as pessoas consumiriam esse produto porque sabem que quando acabar a Black Friday vai voltar ao preço original”.
Onde estarão os descontos
Os dois especialistas apontam que o setor de vestuário será o grande destaque da Black Friday deste ano em relação aos descontos.
“O segmento tem margens maiores e tem que prever o encalhe. Porque é muito ruim virar coleção sem ter desovado, então deve ter promoções mais agressivas”, diz Neves.
“É um segmento que ainda não se recuperou da pandemia, ele tem que girar, tem que fazer volume e para isso não vai repassar esse aumento da inflação para o consumidor final integralmente. Isso pode aumentar a probabilidade de o consumidor encontrar descontos efetivos de 10% ou 15%”, aponta Bentes.
Neves aposta também em descontos em eletrodomésticos e em acessórios ligados a vestuário e a eletrônicos, como computadores e smartphones.
Já o segmento de eletroeletrônicos está muito contaminado pela alta do dólar, o que pode afetar bastante os descontos, alerta Bentes.
“Para conseguir dar desconto tem que sacrificar a margem de lucro e estar menos exposto à taxa de câmbio. Se você importa diretamente um produto, se a taxa de câmbio sobe 10%, o varejista vai ter que subir o mesmo percentual no preço final do produto. Já os setores de vestuário, cosméticos e alimentos estão menos expostos à variação do dólar do que os eletroeletrônicos”, explica o economista.
Além disso, segundo Bentes, a Black Friday é uma possibilidade de baixar o estoque para retomar as encomendas da indústria e para o Natal. Isso é mais difícil no varejo de consumo durável, porque leva um certo tempo para receber mercadoria, ainda mais no contexto da pandemia. No caso de bens consumo não-duráveis, como alimentos e vestuário, é possível baixar o estoque na Black Friday para receber mais mercadorias para o Natal.
Frete x alta dos combustíveis
O frete tem grande peso no custo das compras pela internet – pode representar até 40% do preço final. E a alta dos combustíveis pode influenciar no preço final dos produtos?
De acordo com o CEO do Reclame Aqui, a primeira coisa que o consumidor olha é o preço do produto. Depois ele coloca o CEP para descobrir o frete. “Então a empresa não deve majorar o preço do produto porque vai perder muito na primeira decisão. A segunda decisão é o frete, e o consumidor está um pouco mais esperto”, diz.
Para Neves, o que deverá ser avaliado pelas empresas é se valerá a pena transferir toda a questão da alta de combustível para o frete. Para ele, as empresas tentarão segurar essa questão do frete o máximo possível, porque no e-commerce ele é uma parcela grande do custo do produto.
“Pode ser que uma empresa fique com frete mais barato que a outra, mas eu acho que elas vão cobrar muito mais caro para entregar mais rápido. Então deverá haver um frete médio que não será tão alto, mas aquele para chegar no mesmo dia ou no dia seguinte provavelmente subirá bastante. Esse frete mais rápido está ligado a uma necessidade. Então a ansiedade do consumidor pode contar contra ele e pode ser que algumas lojas desloquem para esse frete de curto prazo grande parte do lucro delas”, diz o CEO do Reclame Aqui.
Bentes lembra que a inflação está concentrada no preço dos combustíveis. Se o preço de um produto é mais ou menos o mesmo nas varejistas, quem entrega antes e mais barato leva vantagem. Isso dificulta para quem migrou para o varejo online por conta da pandemia, em especial as pequenas empresas.
Black Friday é o novo Natal?
Neves aposta que as compras de Black Friday vão ser as mesmas de Natal, também influenciadas pelo fator inflacionário. “Este ano vai ser uma onda só de compras, quem comprou, comprou, quem vendeu, vendeu, então o consumidor que comprar na Black Friday não vai comprar depois. Vai ser a compra do fim do ano e serão gêneros essenciais. Além disso, a compra por impulso vai ser extremamente rara”, prevê.
Bentes considera que o Natal ainda é a data comemorativa mais importante do comércio. “A Black Friday, por ter essa característica online, tende a movimentar muito menos que o Natal, porque no interior do Brasil, aquele pequeno varejo de rua é bastante movimentado no Natal”, diz o economista.
Bentes aponta que a Black Friday é a data que mais tem crescido no comércio, mas ainda vai levar um bom tempo para se aproximar do Natal ou Dia das Mães. “Vai precisar de uma geração nova de consumidores que priorize a compra online. Isso porque a maioria das pessoas ainda prefere o varejo físico”, observa.
Dicas para aproveitar a Black Friday da inflação
Veja as dicas de Edu Neves
- Só compre se o desconto for efetivo e se você realmente precisa do produto. Se ele estiver com 10% ou 15% de desconto, pode comprar porque se trata de um desconto real.
- Se o desconto for muito bom na Black Friday, não adie a compra para perto do Natal.
- Se você não precisa do produto, mesmo que ele esteja mais caro lá na frente, você estará gastando seu dinheiro em algo que não é necessário, em um cenário no qual a inflação está crescendo, a sua renda está mais espremida e você precisará de poupança mais do que nunca.
- Se a pessoa estiver comprando algo para si e não para presentear, talvez valha a pena esperar pelo saldão de janeiro.
- Antes de comprar, pesquise a reputação da empresa em redes sociais ou no Reclame Aqui.
- Quando o ambiente de descontos é ruim, os golpistas oferecem promoções que as empresas sérias não conseguem dar porque ele não vai entregar o produto. Cuidado redobrado com anúncios em redes sociais como Facebook e Instagram.
- O frete com entrega rápida é mais caro. Tente usar uma modalidade mais barata, com prazo mais longo. Se a empresa tem uma boa reputação, ela resolverá possíveis atrasos na entrega.
Veja as dicas de Fabio Bentes
- É melhor pagar parcelado, a não ser que o desconto à vista seja maior do que a inflação.
- Como a inflação está em mais de 10% ao ano, parcelar em 10 vezes pode ser uma boa estratégia, desde que tenha controle sobre seu orçamento. Se estiver muito apertado ou endividado, não é aconselhável fazer isso, para não emendar com os gastos de outras datas comemorativas como Páscoa e Dias das Mães.
- Se a venda parcelada tiver cobrança de juros, evite. Se for inevitável, pesquise as taxas de juros das lojas. Não caia na tentação de simplesmente comprar no cartão e depois ficar rolando as dívidas.
- Vale a pena pagar à vista quando o desconto é perto da inflação. Se for de 10%, já vale pagar à vista porque se elimina o risco de incorrer em alguma rolagem de dívida no momento em que a taxa de juros no país está em trajetória de alta.
- Fique atento a regiões e segmentos onde o varejista está precisando atrair o consumidor, oferecendo melhores descontos.
- Da mesma forma que o consumidor busca preços mais atraentes, é preciso pesquisar o custo do frete, porque ele pode fazer a diferença na decisão de comprar um produto.