2 de outubro de 2023

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E se tiver guerra? Saiba como mercado reagiria e quais seriam os setores da Bolsa mais impactados

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Conflito armado tem potencial para gerar estouro inflacionário, segundo analistas, puxado por commodities e dólar

Mais de 10 mil quilômetros separam a Bolsa brasileira, no centro de São Paulo, do leste europeu – precisamente, a fronteira da Ucrânia com a Rússia. Mas os últimos dias têm mostrado que, apesar da distância, o risco de uma guerra entre os países é capaz, sim, de impactar os mercados por aqui. Com os russos recuando da fronteira, as tensões parecem diminuir. Mas e se uma guerra de fato acontecesse, como a Bolsa reagiria?

Os analistas explicam que há diferentes cenários para essa hipótese. A repercussão de uma guerra no mercado dependeria, em primeiro lugar, da extensão do conflito e como países da Europa e os Estados Unidos, aliados da Ucrânia, responderiam ao ataque russo. Sendo uma guerra geograficamente isolada, com retaliações apenas comerciais à Rússia, os reflexos seriam menores do que uma resposta bélica, com maior envolvimento de outras nações.

“Sabemos que os Estados Unidos tem um posicionamento pró-Ucrânia e, dependendo do posicionamento do Brasil nesse conflito, a gente poderia sofrer sanções. Poderíamos ter uma nova guerra comercial e uma pressão para as companhias exportadoras brasileiras”, afirma Anderson Meneses, da Alkin Research.

Dólar e commodities em alta: quem ganha e quem perde

O setor de commodities já vem repercutindo as tensões geopolíticas no leste europeu há algumas semanas. A Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e responsável por pelo menos um terço do abastecimento de gás natural na Europa.

“A intenção da tomada de posse pela Rússia da Ucrânia é ser competitiva em relação ao Oriente Médio, um dos maiores players de energia do mundo”, explica Ariane Benedito, economista da CM Capital.

Na sessão de ontem (14), os preços do petróleo no mercado internacional chegaram ao maior nível desde julho de 2014 com uma mensagem truncada do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, sobre um possível ataque russo já nesta quarta-feira (16).

Ariane explica que ações como Petrobras (PETR3, PETR4), PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) tendem a repercutir e ganhar com a valorização da commodity no mercado internacional. Mas vale lembrar que o Brasil também importa derivados de petróleo e a conta dessas empresas pode ficar mais cara em uma situação de guerra. Isso porque, assim como as commodities, o dólar tende a se valorizar.

“A pessoa que tem dinheiro investido vai pensar em como trazer esses recursos para perto de si”, diz Alison Correia, fundador da Top Gain. A guerra alimenta o sentimento de aversão ao risco, que leva o investidor a fazer escolhas mais seguras. Numa situação de conflito, a tendência é que ele busque opções ainda mais conservadoras e o dólar é considerado porto seguro.

O dólar mais alto, por sua vez, tende a refletir positivamente em ações de empresas exportadoras. É o caso das companhias de papel e celulose, como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), cujas receitas vêm, principalmente, das vendas para o exterior.

“São empresas que conseguem tirar um proveito da situação porque tem o dólar mais aquecido”, explica Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Efeito cascata

A combinação de commodities e dólar altos tende a impactar diversos outros setores da Bolsa e a economia como um todo. As aéreas, que mal se recuperaram da pandemia de Covid-19, enfrentariam um novo “baque” financeiro. Empresas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) pagam em dólar pelo arrendamento das aeronaves, mesmo em um cenário de suspensão de voos. Além disso, as companhias tendem a ser impactadas pelo aumento no preço dos combustíveis.

“O combustível de aviação é um dos principais custos das companhias aéreas e é derivado do petróleo”, explica Komura. Com as aéreas afetadas, fabricantes de aeronaves, como Embraer (EMBR3) e empresas de turismo, a exemplo de CVC (CVCB3) também tenderiam a ser fortemente impactadas.

Tempestade inflacionária

As tensões entre Rússia e Ucrânia ocorrem em um contexto de escalada da inflação global. As disparidades entre oferta e demanda, por conta da pandemia, ainda não foram ajustadas e o resultado é o avanço dos preços, com os países retirando estímulos e subindo juros aos poucos. Os analistas explicam que uma guerra agora teria potencial para provocar um estouro inflacionário.

Isso não só poderia levar os Estados Unidos a entrar em um ciclo mais severo de aperto monetário, como também frustraria os planos do Banco Central do Brasil em reduzir o ciclo de alta de juros. Para piorar, Rússia e Ucrânia, são grandes players globais de trigo e uma guerra fatalmente refletiria em uma alta dos preços dos alimentos.

O cenário complicaria ainda mais a situação de varejistas listadas na Bolsa. Ações de empresas como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) têm tido meses difíceis, respondendo negativamente a alta da inflação e perspectiva de alta de juros, o que diminui o poder de compra da população. “O Brasil é um celeiro de commodities, mas tem um setor varejista que está bastante depreciado – e continuaria depreciando em um cenário de guerra”, conclui Gonçalvez.

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