Ibovespa acelera baixa e cai mais de 2% após ata do Fomc vir com tom mais duro; dólar vai a R$ 5,70
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Alta dos treasuries americanos pesa diretamente nos índices de países emergentes
O Ibovespa viu sua queda acelerar para 1,97%, a 101.475 pontos, às 16h30 (horário de Brasília) após o Federal Reserve publicar a ata da última reunião de comitê de política monetária, o Fomc.
A queda do principal índice da bolsa brasileira se dá de modo paralelo à alta do rendimento dos treasuries americanos – o com vencimento em dez anos, por exemplo, subia 4,3 pontos-base às 16h30, para 1,70%, logo após a publicação do documento.
O dólar comercial, que caiu durante boa parte do dia, agora sobe, avançando 0,27%, a R$ 5,704 na compra e a R$ 5,705 na venda.
O destaque, na publicação, ficou para o fato de os dirigentes do Federal Reserve terem assumido que a inflação está acima do esperado, tendo deixado de ser transitória, e que as condições para a alta do juros podem ser alcançadas em breve.
Além disso, o Fed também indicou não somente o tapering (ou a redução do ritmo de compra de ativos) como também a redução do tamanho do seu balanço patrimonial.
“Por mais que o Fed tenha trazido notícias boas, falando por exemplo que o mercado de trabalho trouxe dados muito positivos e que a variante Ômicron não muda praticamente nada as projeções para a economia, a preocupação com a inflação dominou a atenção do mercado”, explica Henrique Esteter, especialista de mercados do InfoMoney. “A sinalização de que a elevação da taxa de juros pode acontecer antes do esperado balançou as bolsas”.
Para Rodrigo Franchini, head de relações institucionais da Monte Bravo, a ata foi dura. “Ela afirma que a inflação será controlada de qualquer jeito, que a alta de juros irá acontecer com certeza e que tappering não será alterado, terminando em março e ponto-final”, comenta.
O Dow Jones, às 16h35, cai 0,40%, o S&P 500 recua 0,99% e a Nasdaq, 2,13%.
Próxima reunião, em março, pode já contar com alta de juros
As falas do diretores do Fed deixam os investidores ainda mais atento para a próxima reunião, que acontece em março. A negociação dos juros futuros nos Estados Unidos, logo após a publicação, mostra que há cerca de 70% de uma alta vir já no terceiro mês deste ano.
“Na hora que um Banco Central de um país emergente, como o Brasil, fala em inflação permanente, isso muitas vezes não é nada demais, por muitas vezes decorrer da desvalorização da moeda e de maiores gastos com importação. Quando um mercado de primeira linha, porém, fala algo do tipo, é que o bicho realmente está pegando”, contextualiza Franchini.
Ainda segundo o sócio da Monte Bravo, a retirada dos estímulos por parte Fed tem um peso de destaque nas economias emergentes, por diminuir o fluxo de capital para essas. “A tendência de investimentos em países emergentes cai e essas nações precisam se esforçar ainda mais para se tornarem mais atrativos aos investidores”, explica.
Como o Brasil enfrenta uma série de problemas fiscais, a forma como o mercado precifica o país ficando mais atrativo é através da alta dos juros também por aqui. A curva de juros sobe, com isso, em bloco. O contrato DI com vencimento em janeiro de 2023 tem alta de um ponto-base, para 12,05%. O para janeiro de 2025 avança 1,5 ponto-base, para 11,30%. O para o mesmo mês de 2027, sobe 0,8 ponto, para 11,17%.
“Se a bolsa brasileira, enquanto lá fora houve uma sequência de rompimento de máximas históricas, conseguiu fechar 2021 com uma queda bem grande, agora você imagina com o mercado internacional perdendo força com a redução de liquidez”, finalizou Esteter.